A Não Traição

 Não Traiu. Bentinho era um egoísta, desequilibrado e de caráter questionável. E tenho dito!

Alem dessa constatação, levo em consideração ainda, que Li Dom Casmurro no ensino médio, porque fui obrigada. E isso muda toda uma perspectiva.

Confesso que foi uma leitura difícil, lenta e às vezes era preciso repetir por ser um vocabulário extremamente requintado, fora do que estou acostumada a ler. Mas dentre outras qualidades desse clássico brasileiro, percebo esse refinamento como uma das qualidades desse belíssimo romance.

O livro traz citações e personagens conhecidas de muitos mortais. Mesmo aquele que talvez nunca o tenha lido, em algum momento já ouviu falar dos olhos de ressaca, da casa de Matacavalos ou das característica belíssimas, maravilhosíssimas de José Dias.

O enigma nacional é se Capitu traiu ou não. Minha análise é que Bentinho, egoísta de carteirinha, sente-se culpado quando deseja a esposa do amigo, e como toda a sua vida foi pautada em colocar nos outros a justificativa de seus problemas, com a morte do amigo, inverte os papeis e transfere para Capitu a culpa que estava sentindo.

Machadão é extraordinário no livro. Ele conversa com o leitor, encarnando intensamente o personagem. Ao ler, não é Machado de Assis, o escritor, que está ali, é Bentinho, o covarde que conta sua versão da história. Ele se faz de coitadinho e deixa transparecer que não era aquele poço de qualidades que tenta fazer crer. Machado era um “ator da escrita” ele vestiu o personagem e deixou que este contasse sua história com maestria.

Entendo porque é uma leitura obrigatória, pena que a idade nem sempre nos permite entender toda a grandeza da obra. O tempo geralmente faz com que o valor das coisas mudem de patamar.

Enfim, não preciso dizer que vale a pena ler pois isso já é decreto batido, então só mês resta escolher, com muita dificuldade, uma frase dentre as inúmeras maravilhosas de Machado de Assis e encerrar com satisfação de quem leu um livro genial, ou como diria Jose Dias, perfeitíssimo. “A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios.”

Autor: Machado de Assis



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